Tirar o Smartphone e o acesso às tecnologias móveis da mão das crianças já não é mais possível, portanto é papel de pais e educadores mediar esta relação entre criança e aparelhos eletrônicos, superando as principais consequências de um processo que se fortalece sem mediação e informação, devido há tantas formas diferentes de podermos lidar com os recursos que hoje cada criança carrega consigo na palma da mão.
Destaca-se neste texto reflexivo a relevância que se estabelece entre a ferramenta disponível e o bom uso que podemos fazer dela em nosso dia a dia.
Como professora de educação infantil há 19 anos, tenho acompanhado, diariamente, o acesso as tecnologias móveis por parte das famílias e também das crianças em idade entre os 4 meses aos 5 anos e 11 meses nas comunidades onde atuo. É perceptível o enorme crescimento do uso de Smartphone e Tablet por parte dos pais para entreter suas crianças em diferentes contextos diários.
Esta é sim uma demanda em ascensão que não só preocupa, bem como nos solicita uma ação emergente: nos cabe, como pais e educadores, mediar as relações entre a tecnologia móvel e a criança, para que todos possamos fazer um bom uso destes recursos e que não nos deixemos apenas levar por modismo, sem pensar nas consequências de nossas escolhas.
Refletir sobre nossas escolhas e nossas atitudes, debater sobre suas consequências em nossa vida e na comunidade onde estamos inseridos sempre foi e será o melhor caminho para evitar ou mesmo diminuir o índice de problemas futuros que emergem de situações onde bom senso e a mediação não estavam presentes.
Entende-se que assim como uma criança precisa de orientação nas primeiras vezes que for atravessar uma rua movimentada, em que necessitará ser incentivada a prestar atenção no trânsito e a fazer escolhas que previnam um acidente, também é necessária está intervenção por parte dos adultos responsáveis no uso adequado das tecnologias móveis.
E isto é fato, pois que na palma da mão já estão disponíveis e o quê demanda agora é a mediação responsável por parte do adulto para estabelecer limites, regras, combinações e o mais importante: informar sobre os riscos e as consequências das ações que desempenhamos atrás das telas sensíveis de nossos aparelhos eletrônicos.
É inerente ao ser humano estabelecer relações de comunicação entre pares, deste modo, podemos dizer que é também saudável oportunizar que crianças de diferentes culturas e países se comuniquem entre si e estabeleçam relações interpessoais, porém antes de nos conectarmos com estranhos de lugares distantes é necessário que saibamos olhar no olho, nos comunicar com os pares que estão ao nosso lado, de forma presencial. Saber dividir um brinquedo no parquinho é tão importante como saber que não devemos abrir as caixas de diálogos (spans) que surgem na tela do Smartphone ou Tablet quando a criança está jogando o aplicativo Tom ou assistindo um vídeo no YouTube, por exemplo.
É relevante destacar que estas escolhas, por parte das crianças, não podem acontecer por acaso ou de forma aleatória, elas precisam ser ensinadas a pensar sobre, é fundamental o debate, o diálogo informativo e reflexivo desde a tenra idade e principalmente o estabelecimento de limites seja de tempo e/ou de endereços eletrônicos a serem visitados ou não pela criança.
Nosso cotidiano corrido, com inúmeras tarefas e agora infindáveis diálogos para retornar via WhatsApp (apenas um de tantos exemplos) nos movem para tomarmos ações impensadas, como por exemplo: deixar o Tablet (pelo tempo que precisamos) nas mãos de uma criança de 4 anos, sem monitoramento e combinações prévias.
Não é questão de julgarmos aqui o comportamento de pais/mães atarefados e com pouco tempo disponível, é o caso sim de refletirmos sobre nossas escolhas, de nos posicionarmos frente as demandas da tecnologia móvel no nosso dia a dia e nos orientarmos também. Imaginem quantos adultos enviam mensagens no WhatsApp e respondem as ditas “correntes” sem saber que podem estar enviando vírus para os outros? Na maioria das vezes o que nos falta é a informação, é conversar sobre nossas dúvidas e encontrar mecanismos para mediar as relações entre tecnologia móvel, bom uso e bom senso, seja para nossas crianças ou para nós mesmos.
Nós também, enquanto adultos: ao refletir e dialogar com outras pessoas que estudam sobre tecnologia e enfrentam estes mesmos problemas, estaremos aprendendo a nos proteger perante tantas novidades tecnológicas que queremos usufruir, mas que precisamos ter cautela, informações, responsabilidade e bom senso que são tão úteis e necessários até mesmo ao comprarmos um aparelho eletrônico novo para nosso lar (como uma cafeteira por exemplo: por mais simples que seja o seu manuseio, se esquecermos ela ligada com pouco ou sem café, corremos um sério risco de chegarmos em casa, ao final da tarde, e encontrarmos, no mínimo, uma jarra torrada).
Portanto, são nestes pequenos mas não menos importantes detalhes que podemos mediar as nossas relações com as tecnologias móveis e, por consequência, ensinar nossas crianças a estabelecer relações saudáveis consigo mesmo e com a mobilidade que emerge destas inter-relações tecnológicas.
Pensemos no trânsito das grandes cidades, por exemplo: quantos de nós, alguma vez ou outra, já parou na sinaleira e utilizou este tempo para rapidamente desbloquear o Smartphone para ver se entrou aquela esperada mensagem?
Pois bem, algumas ações simples tornaram-se de fato tão corriqueiras no nosso dia a dia que não analisamos mais suas consequências e nem mesmo pensamos sobre elas, mas ela fazem parte do nosso contexto e nos pedem que tenhamos opiniões e posicionamentos perante estas demandas, pois mesmo que não estejamos dispostos a fazer isto, mais cedo ou mais tarde às consequências virão: como por exemplo a multa que chega pelo correio por estar usando seu Smartphone na sinaleira ou mesmo o vírus (por ter clicado, sem perceber, na janela que estava aberta antes da mensagem principal aparecer) e que desavisadamente fez você perder todos os dados e ter que formatar seu aparelho.
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